FUNDAÇÃO MALCOLM LOWRY

FUNDAÇÃO MALCOLM LOWRY

Este blogue foi criado com o intuito de unir a comunidade lowryana de todo o mundo, a fim de trocar ideias e informação sobre o autor, promover a organização de conferências, colóquios e outras actividades relacionadas com a promoção da sua obra. Este é o primeiro sítio trilingue feito no México sobre o tema. Cuernavaca, México.


Malcolm Lowry Foundation


This blog was created to comunicate all lowry scholars, fans and enthusiastics from around the world in order to promote the interchange of materials and information about the writer as well as organize events such as lectures, colloquiums and other activities related to the work of the author. Cuernavaca, Mexico.


FONDATION MALCOLM LOWRY

Ce blog a été crée dans le but de rapprocher la communauté lowryenne du monde entier afin de pouvoir échanger des idées et des informations sur l'auteur ainsi que promouvoir et organiser des conférences, colloques et autres activités en relation avec son oeuvre. Cuernavaca, Morelos, Mexique.


domingo, 24 de abril de 2011

MALCOLM LOWRY: DEBAIXO DO ÁLCOOL O VULCÃO É MUITO MAIS SUPORTÁVEL

É pouco vulgar tanto movimento no zócalo. O centro do principal jardim da cidade está ocupado por dezenas de pequenos pavilhões que evocam algumas das mais ilustres linhagens de Cuernavaca cujos familiares ultimam as decorações. No chão, pétalas de cempasúchitl desenham alegremente caveiras a sorrir, fingidos túmulos ao longo da praça evocam vultos da cultura nacional, no lado norte colocam-se as catrinas apresentadas a concurso em mais um Dia dos Mortos. Uns quarteirões a oeste, subindo pela Rua Hidalgo e passando pela Catedral chegamos à Avenida Morelos. No Centro Cultural Universitário também a azáfama é grande: são onze da manhã e está prestes a começar o segundo congresso internacional dedicado a Malcolm Lowry e à sua obra mais conhecida, Debaixo do Vulcão: um louvor à decadência, à solidão, à embriaguez, um manual de autodestruição, um retrato pouco piedoso da violência que pode atingir a condição humana? Ou, para muitos leitores, entre os quais assumidamente se inclui o autor destas linhas, uma lenda literária, uma das obras maiores do século XX.


NASCE UM ESCRITOR

Clarence Malcolm Lowry nasce a 28 de Julho de 1909 em Wallasey, no condado de Cheshire, Inglaterra, no seio de uma família burguesa. É o mais novo dos quatro filhos de Arthur Lowry, rico comerciante de algodão em Liverpool, com propriedades no Egipto, Peru e Estados Unidos, exemplo de páter-famílias trabalhador, dedicado aos preceitos do protestantismo, valores com que educa os filhos, mas que o benjamim, por rebeldia, não acolhe. Preferirá as leituras de Melville ou Conrad Aiken e, em 1927, com 18 anos, suplica ao pai uma viagem ao Oriente. O inquieto Malcolm, agora aprendiz de lobo-do-mar e ajudante de fogueiro, embarca então no navio de carga S.S. Pyrrhus, iniciando uma viagem de seis meses que o levará de Liverpool ao Canal do Suez, Xangai, Japão e Vladivostoque e que estará na origem de Ultramarina. De volta a casa, as aulas em Cambridge já haviam começado, estando o ano escolar, por consequência, perdido. Malcolm bebe como um velho marujo, o que naturalmente preocupa o pai, abstémio e atento ao comportamento do jovem. Por isso, decide matriculá-lo num colégio tido por rigoroso, em Bona, na Alemanha, até começar novo ano lectivo.

No regresso a Inglaterra toma contacto com um livro que será determinante na sua decisão de se dedicar à escrita. Na leitura de Blue Voyage, de Conrad Aiken, escritor norte-americano a viver em Inglaterra, Lowry julgou encontrar a chave de uma estrutura romanesca moderna aliada à grandiosidade da escrita. Aiken passará a ser, a partir de agora, a sua referência; Malcohol, assim chamado pelo mestre, vai com ele para o continente americano, aproveitando para se dedicar com muito entusiasmo a Ultramarina. No Outono de 1929, Malcolm regressa a casa e entra finalmente na Universidade de Cambridge: a par dos estudos, vai revendo o romance. Um dia descobre, perplexo, um livro cujo protagonista é um rapaz socialmente bem instalado que decide experimentar a dureza da vida a bordo. O paralelismo de The Ship Sails On com a história que está a escrever é óbvio; decide por isso ir à Noruega conhecer o seu autor, Nordahl Grieg, que o incentiva a acabar a obra, finalmente publicada por Jonathan Cape, que viria a ser o seu editor em Inglaterra, em 1933.

A sua fama de bebedor e os escândalos em que se envolvia iam aumentando. Contrariado e com algum receio, o pai autoriza-o a passar uns tempos em Paris com a condição de frequentar a Sorbonne. Afinal, Malcolm tinha concluído o curso de Filologia Inglesa e a viagem de certa forma constituiria um prémio. Em França, não vai às aulas, mas a sua conduta não sofre grandes reparos, aprendendo a língua francesa e entregando-se à leitura de Rimbaud e Baudelaire.


O CASAMENTO COM JAN GABRIAL

Na Primavera de 1933 vai com o casal Aiken passar uns tempos a Espanha, a viver então a Segunda República. Provou a aguardente, não poucas vezes em demasia, e chegou a ter problemas com a Guardia Civil andaluza, despertando nos Aiken o desejo de o recambiar para Inglaterra. Até que o milagre aconteceu: no dia 19 de Maio conhece e perde-se de amores por Jan Gabrial, uma bela jornalista norte-americana que estava de férias em Granada (também Yvonne e Geoffrey, de Debaixo do Vulcão, se conheceriam nesta cidade). Jan vai a caminho de Paris (está com um amigo francês), simpatiza com o escritor mas resiste a um romance. Malcolm fica despedaçado, a bebida é o seu refúgio, as autoridades espanholas começam a perder a paciência. No regresso a casa passa por terras lusas, chegando a Londres no final de Maio e ficando vários dias hospitalizado para proceder à desintoxicação de um corpo cheio de aguardente espanhola e, quem sabe, portuguesa.

Em Outubro, Jan, acabada de chegar à capital inglesa, encontra Malcolm casualmente numa sala de espectáculos com o mesmo nome do local onde se haviam conhecido meses antes – o Alhambra Palace. A paixão renasce, desta vez correspondida, acabando triunfalmente e sob o romantismo parisiense em casamento pouco tempo depois, em 6 de Janeiro de 1934. Apesar do casamento, Lowry continua a beber, fazendo com que Jan vá perdendo, gradualmente, a paciência. Estavam casados há pouco mais de um mês quando a mulher parte de férias com uns amigos pela Europa, deixando-o em Paris. Ainda se reencontraram algumas vezes antes de Jan regressar aos Estados Unidos, onde a família a esperava, deixando um marido perdido de álcool e de dor. No entanto, Malcolm não desiste, arrepende-se, considera possível uma reconciliação. Parte para Londres, onde logo apanha um barco para Nova Iorque. Reconquista Jan, alugam um pequeno apartamento em Manhattan e aí vivem juntos durante cerca de um ano.


DO AMOR À LOUCURA, COM O ÁLCOOL PELO MEIO

Em Nova Iorque, Lowry continua a trabalhar num romance que o envolve há alguns anos, In Ballast to the White Sea, e que acabaria por desaparecer no incêndio da sua futura casa em Dollarton (Canadá), tendo sido salvas apenas algumas das mais de duas mil páginas. Pouco se sabe desta obra, o argumento gira à volta da incapacidade de amar e do… alcoolismo, levando-nos, inevitavelmente, a concluir que, tal como acontecera com Ultramarina, o escritor não resiste a colocar no papel as experiências por que passou e a ficcionar, no fundo, a sua própria existência.

Separado mais uma vez de Jan, Malcolm acede a ser internado num hospital para tratamento psiquiátrico. No final de Maio de 1936, após duas semanas de terapia, profundamente impressionado com o que viu, começa a escrever um conto chamado Delirium on the East River. A história trata de um homem com problemas conjugais causados pelo alcoolismo que é internado num hospital psiquiátrico. Mais uma vez, Lowry recorre às suas vivências para fonte de inspiração literária. Como ele trabalhava exaustivamente cada obra, não admira que o conto fosse crescendo e rapidamente se transformasse numa novela. Alguns meses passados daria origem a The Last Address, acabando por assumir, poucos anos depois, o título definitivo: Lunar Caustic.

Em Setembro retoma a relação com Jan Gabrial. Defensores de que a mudança é benéfica, decidem viajar para Los Angeles, onde era fértil o trabalho de guionista e Lowry esperava ser contratado pela MGM. Mas as coisas não correram como esperavam, o trabalho não apareceu, os dólares estavam a acabar. Lembraram-se então de que no México, ali ao lado, a vida era muito mais barata. E quando, no final de Outubro de 1936, o S.S. Pennsylvania aportou em Acapulco, desembarcaram em solo mexicano dois passageiros muito especiais.


MÉXICO!

Chegar ao México em vésperas do Dia dos Mortos é viver uma experiência singular. As ruas estão adornadas com papel colorido recortando caveiras e esqueletos, uma imensidão de vendedores prepara apetitosos tacos, burritos, quesadillas e, sobretudo, tamales, vendem-se flores como nunca, de preferência amarelas, as crianças comem risonhas caveiras de açúcar. Os mariachis tocam com outro vigor entre o rebentamento dos foguetes, as pessoas aderem à festa, a morte sabe a chocolate. Um ambiente destes, com um clima que nada tem do rigor das ilhas britânicas e tão diferente do mundo a que estava habituado, não podia deixar de impressionar e, mais, seduzir Lowry.

Depois de uns dias na capital mexicana, o casal chega a Cuernavaca, alugando uma casa com piscina e jardim na Rua Humboldt, nº 62. A cidade, a recuperar ainda da Revolução, não é grande mas já ganhou a designação de “Cidade da eterna Primavera”, motivando capitalinos (a menos de duas horas de viagem, na época) e turistas norte-americanos a construírem ali a sua casa de férias. E tem outra coisa que muito agrada ao escritor: 57 bares!

Lowry começa aqui a escrever a primeira versão de Debaixo do vulcão, que irá desenvolver durante todo o ano seguinte. Em Dezembro de 1937, Jan abandona-o em definitivo e Lowry vai afogar a dor para Oaxaca, onde, haviam-lhe dito, se faz o melhor mescal. Nesta cidade conhece Juan Fernando Márquez, o amigo mexicano que irá inspirar as figuras do Dr. Vigil e de Juan Cerillo. É muito fácil supor que tenha conhecido todos os lugares onde pudesse molhar a garganta, incluindo, naturalmente, a cantina El Farolito, que transplantará para a literatura. Devido à bebida ou porque foi confundido com um militante comunista gringo, como sustenta, a verdade é que Lowry passa o Natal na cadeia.

Os problemas com as autoridades mexicanas estavam apenas a começar, a polícia começava a reparar no inglês que só bebia e provocava desacatos. A 18 de Março de 1938 expirava o visto que o autorizava a permanecer no país, facto que não preocupou muito Malcolm Lowry. O problema é que, nesse mesmo dia, o Presidente Lázaro Cárdenas nacionalizou as companhias petrolíferas, originando um conflito diplomático com a Inglaterra. A partir dessa data, Lowry estava não só em situação ilegal, como não era, por ser inglês e um bebedor incorrigível, particularmente desejado. Por isso não causou estranheza o facto de meses depois, a poucos dias de fazer 29 anos, ser metido à força num comboio rumo a Nogales, fronteira com os Estados Unidos.


DEBAIXO DO VULCÃO E… MÉXICO, OUTRA VEZ

Em Los Angeles procura Jan, que arranjara entretanto novo companheiro. Através de amigos, conhece uma ex-actriz, Margerie Bonner, com quem casa, indo viver para Vancouver, depois de ter sido expulso dos Estados Unidos. No Canadá alugaram uma pequena cabana junto ao mar. Lowry trabalhará a terceira versão de Debaixo do Vulcão, que o editor Jonathan Cape considera muito espessa e confusa, apesar de ter partes com grande brilhantismo e de grande comoção. Recusada, portanto.

É nessa altura que Malcolm Lowry começa a perceber o que escreve como um projecto mais global, com uma grande ambição literária, a que chamou “A viagem que nunca termina”. À maneira de A Divina Comédia de Dante Alighieri, o projecto assentaria numa trilogia que desse a conhecer o Inferno, o Purgatório e o Paraíso. O Purgatório seria Lunar Caustic; o Paraíso, In Ballast to the White Sea; e o Inferno, Debaixo do Vulcão, naturalmente.

No dia 7 de Junho de 1944 um incêndio destruiu a cabana onde viviam. Correndo risco de vida, Margerie conseguiu salvar a quarta versão do manuscrito e alguns poemas, perdendo-se o resto da obra em que Lowry vinha aos poucos a trabalhar. Aceitam a ajuda de um amigo, que lhes disponibiliza a sua casa em Toronto. É do outro lado do Canadá, mas não havia alternativa. Na noite de Consoada desse ano, Lowry considera acabado o romance em que está envolvido há quase oito anos.

No início do novo ano o casal regressa a Dollarton com o intuito de reconstruir a cabana e em Fevereiro o escritor recebe a notícia de que o pai morrera. Apesar das constantes críticas que Arthur Lowry permanentemente fazia ao filho pela sua opção de vida, não aceitando o facto de ele, ao contrário dos irmãos, preterir o mundo dos negócios, a verdade é que nunca deixou de lhe proporcionar uma mesada de 100 dólares. Em Junho, Lowry envia o manuscrito ao editor, pega no que lhe coube em herança, aplica parte na recuperação da casa e o casal decide viajar até ao México.

Em Dezembro de 1945 está no Hotel Canadá, na Cidade do México, onde anos antes se hospedara com a primeira mulher. Seguem para Cuernavaca, ficando numa casa na mesma Rua Humboldt. Numa viagem a Oaxaca em busca do amigo Fernando, Lowry recebe a notícia de que morrera baleado num bar, algures em Tabasco, para onde o enviara o banco onde trabalhava. A Lowry não resta mais do que homenageá-lo numa obra em que tem vindo a trabalhar, Dark as the Grave Wherein My Friend Is Laid, tida como a continuação de Debaixo do Vulcão.

Em Março, o casal decide ir passar uma temporada a Acapulco. As autoridades reclamam a Lowry uma pretensa multa que ficara por pagar aquando da sua primeira passagem pelo México. O casal está sem passaportes, Margerie, temendo perdê-los, deixara-os guardados em casa, em Cuernavaca. Lowry contesta os 50 pesos da infracção, envolve-se num processo kafkiano e, em Maio, acaba de novo por ser expulso de um país que ama profundamente. Antes, a 6 de Abril, recebera uma dupla de boas notícias: tanto Jonathan Cape, em Inglaterra, como a editora norte-americana Reynal and Hitchcock publicariam Debaixo do Vulcão.

O resto pertence, já se sabe, à História. Regressa ao Canadá, à sua casa de Dollarton. Em Nova Iorque, os excessos dos festejos da publicação do livro acabam em internamento. Lowry e Margerie decidem fazer uma viagem pela Europa, que ela não conhecia, e da qual resultam novas hospitalizações em França e Itália. No regresso a casa, Lowry trabalha com a determinação que a pausa na bebida consente. Em 1952 assina um contrato com a prestigiada Random House, o que lhe permite receber uma mensalidade para finalizar, entre outras obras, Lunar Caustic e Dark as the Grave Wherein My Friend Is Laid. No dia 27 de Junho de 1957, Margerie e Lowry discutem violentamente. Amedrontada com as ameaças de morte, Margerie passa a noite em casa de vizinhos. Na manhã seguinte, ao entrar em casa, encontrará o corpo do escritor no chão, tendo ao lado uma embalagem de barbitúricos vazia e uma garrafa de genebra em pedaços.


QUAUHNAHUAC HOJE

Se para os amantes da literatura é imenso o legado de Debaixo do Vulcão, o que nos resta da Quauhnáhuac de 1937? Os elementos geográficos, naturalmente, ainda estão lá: O Popocatépetl, ligado pela Passagem de Cortés ao Iztaccíhuatl, repousa adormecido há dois anos, quando se deu a sua última erupção. A cidade perdeu nestes 70 anos muitas das características da obra. As ruas continuam a ser estreitas e sinuosas mas já não são azinhagas de terra batida. O Jardim Morelos ainda é o centro da cidade, os casais apaixonados ainda procuram a cumplicidade da sombra dos louros e ao lado, no Jardim Juárez, no coreto que Porfirio Díaz mandou vir da Europa, podemos ouvir a fanfarra municipal às quintas e domingos. Em frente, o imponente Palácio de Cortés, outrora residência do conquistador construída sobre as ruínas de uma pirâmide, é o mais velho edifício civil do país e alberga hoje o Museu Cuauhnáhuac. Nas paredes do primeiro andar estão alguns dos mais conhecidos murais de Diego Rivera.

O Hotel Casino de la Selva, onde no romance um ano depois o Dr. Vigil e Jacques Laruelle recordam os trágicos acontecimentos, já não existe. Com a proibição do jogo no México, o casino entrou em declínio. Em 2001, a sua iminente destruição suscitou um amplo debate na sociedade mas acabou por ser derrubado para dar lugar a mais um supermercado do grupo Comercial Mexicana. Os murais do hotel de que fala a obra de Lowry estão conservados e integrados no novo Centro Cultural Muros. O caminho-de-ferro também já não serve a cidade. O edifício da estação, longe do centro, junto à grande Avenida Plan de Ayala, e a caminho dos lugares romanceados de Tomalín ou Parían (onde fica o célebre El Farolito), acompanhou a degradação do lugar. Não muito distante, o barranco de Amanalco, onde o corpo de Geoffrey Firmin se perdeu para sempre, continua a intimidar. O Cine Morelos, que exibia o filme Las Manos de Orlac que tanto incomodava o ex-cônsul, ainda funciona, não na Avenida Revolución, que a obra refere e em cujo nº 8 o Dr. Vigil tinha consultório (não há, de resto, memória, em Cuernavaca, de uma rua com esse nome), mas na Avenida Morelos.

O Jardim Borda, casa de Verão do Imperador Maximiliano e onde Emiliano Zapata e Porfirio Díaz deram grandes banquetes, está recuperado e foi posto ao serviço das artes. A poucos metros, na parede da Catedral, Inocêncio III continua a proteger S. Francisco de Assis. Finalmente, a casa onde ficou na segunda viagem, na Rua Humboldt (a mítica Calle Nicaragua), permanece de pé graças aos esforços dos admiradores do escritor em Cuernavaca e da Fundação Malcolm Lowry. Hoje tem o nº 17, em frente termina a Rua Bartolomé de las Casas. Na obra é a casa de Laruelle, que ostenta o célebre “no se puede vivir sin amar”, e nela está instalado o Hotel Bajo el Volcán.

Debaixo do Vulcão é consensualmente considerada uma das grandes criações literárias do século XX. Não é uma obra fácil, a sua leitura não é linear, tendo vários níveis interpretativos, e, porque Lowry era bastante místico, imensas referências ocultas e cabalísticas (a célebre carta a Cape de 2 de Janeiro de 1946 demonstra-o bem), tendo sempre suscitado, também por isso, um amplo e por vezes difícil debate. A Fundação Malcolm Lowry promove o autor e a sua obra, e à sua volta milita um contingente de indefectíveis admiradores nos quatro cantos do mundo. Octavio Paz considera que o tema principal da obra é a expulsão do Paraíso; Lowry, na carta atrás referida, vai mais longe: “Por cada mil escritores que podem criar personagens convincentes até à perfeição apenas um dirá algo de novo sobre o fogo do Inferno. E o que eu digo é algo de novo sobre o fogo do Inferno.” Malcolm Lowry, autor de uma das grandes obras da Literatura, sabia do que falava.

Marcelo Teixeira, Lisboa

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