No próximo dia 28, Malcolm Lowry faria 100 anos. Em vida publicou apenas duas obras, mas isso não impede que este autor inglês seja hoje considerado um dos maiores escritores do século vinte e que «Debaixo do Vulcão», a sua obra maior, figure nas mais variadas listas de leituras obrigatórias – casos da revista «Time», do jornal «Le Monde» ou da Modern Library. Mas o que tem de diferente «Debaixo do Vulcão»? A complexidade e a descrição prodigiosa dos sentimentos e dos estados de alma? A amplitude e erudição das referências? A capacidade metafórica? A sistemática recusa de publicação por parte dos editores? A categorização do desespero? A força do seu simbolismo? Os excessos e os delírios do cônsul? O misticismo da sua arquitectura narrativa? Tudo isso e muito, muito mais, servido por uma história aparentemente simples: certa manhã, Yvonne regressa a Quauhnahuac para tentar a reconciliação com Geoffrey Firmin, ex-cônsul inglês naquela cidade mexicana, encontrando o marido dominado pelo consumo excessivo de álcool, num processo de autodestruição acelerada. Doze horas depois, o casal deixou de pertencer ao mundo dos vivos; a Literatura ganha uma bela história de amor, intensa, trágica e complexa. Imortal. A obra adquiriu uma veneração pouco comum, cedendo o nome a festivais de música, bares e tabernas, blogues e páginas pessoais na internet, “workshops” de escrita criativa ou cooperativas de apicultores, constituindo um grupo de admiradores cuja devoção se manifesta de múltiplas formas.
Em Portugal, «Debaixo do Vulcão» foi publicado em 1965 (dezoito anos depois da sua edição nos Estados Unidos e em Inglaterra) e não suscitou interesse senão num círculo restrito de leitores, que o comentavam em tertúlias. Manuel Gusmão é seu admirador confesso, também Baptista-Bastos, que o recebeu das mãos de Carlos de Oliveira, autor que lhe presta homenagem com o poema “Debaixo do Vulcão”, incluído no livro «Micropaisagem», em 1968. Também outros poetas lhe dedicam atenção: Herberto Helder “muda” alguns poemas para português, Al Berto dedica a Lowry cinco “cartas inúteis” no «Diário de Notícias» de 13 de Janeiro de 1985 e evocá-lo-á, anos mais tarde, em «O Anjo Mudo». Uma década depois, José Agostinho Baptista, poeta e tradutor e admirador de Malcolm Lowry, publica «Debaixo do Azul sobre o Vulcão», texto intenso que percorre sentimentalmente toda a geografia do México, sobre a qual vai pairando a sombra dos ambientes e das personagens de «Debaixo do Vulcão». Em 2000, Manuel de Freitas rende homenagem com a publicação de «Todos contentes e eu também» (nome de uma taberna em Tomalín que aparece no final do capítulo IX do livro de Lowry), que, além da epígrafe de abertura, contém os poemas “El Farolito”, o mais famoso antro do livro, e “Gusano Rojo”, uma das inúmeras bebidas que Geoffrey Firmin ingere ao longo da obra. O tributo continuaria no ano seguinte com “Gloomy Sunday” e “Whiskey on a Sunday”, do seu novo livro – «Os Paraísos Artificiais». No México, país onde «Debaixo do Vulcão» é particularmente apreciado, recebeu a aclamação de Octavio Paz, Carlos Fuentes e José Emilio Pacheco, que venceu em 1991 do Prémio de Ensaio Malcolm Lowry e não resistiu a traduzir poemas do autor inglês. Neste país, Roberto Bolaño escreveu «Os Detectives Selvagens», que leva uma epígrafe do livro de Lowry. “A frase nunca dita”, conto de Alicia Giménez Bartlett incluído na colectânea «O teu nome flutuando num adeus», publicado em Portugal no ano passado, assenta a história num casal que segue os passos de Lowry até Cuernavaca em demanda do El Farolito, que, ao contrário do que se passa na narrativa, nunca existiu naquela cidade mas em Oaxaca. Jean-Paul Sartre também admirava a obra, tal como o seu compatriota Olivier Rolin, que passou há poucas semanas por Portugal antes de regressar a França para participar num colóquio evocativo do centenário de Malcolm Lowry. O irmão, Jean Rolin, publicou recentemente «Un Chien Mort Après Lui», título retirado da última frase de «Debaixo do Vulcão». Uma plena compreensão desta obra não é possível sem a leitura de «A Companion to Under the Volcano». Para a escrever, um dos autores, o neo-zelandês Chris Ackerley, viveu alguns meses em Cuernavaca a reconstituir os passos de Malcolm Lowry.
A adaptação do livro para a Sétima Arte sempre constituiu uma tentação e dava, por si… um filme. Muitos realizadores a tentaram, com o apoio de reconhecidos escritores. Guillermo Cabrera Infante escreveu um primeiro guião para o realizador Joseph Losey, prontamente recusado por ter assinado com o pseudónimo G. Caín, parecido em demasia a Michael Caine, considerado por Losey actor menor. Sorte diferente não tiveram os guiões de Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes e Luis Buñuel (que considerava não ser provável filmar o que vai na alma de uma pessoa) ou os realizadores Jules Dassin e Ken Russell. Nos bastidores, actores como Jack Nicholson, Richard Burton ou Robert Shaw não escondiam a sua vontade de representar o papel de Geoffrey Firmin. Por fim, John Huston, que analisara já inúmeros guiões, teve conhecimento de que Guy Gallo, um jovem estudante de Yale que nunca trabalhara em cinema, lograra fazer em apenas sete dias o que ninguém conseguira em 30 anos. Apaixonado pelo México, John Huston conhecera Lowry em Cuernavaca e ocuparia durante as filmagens a casa que o escritor alugara, hoje transformada no Hotel Bajo el volcán, na Calle Humboldt, a célebre Nicaragua do livro. Com Albert Finney e Jacqueline Bisset nos principais papéis, «Debaixo do Vulcão» foi filmado no México e chegou às salas de cinema 1984. Filme mal-amado pelos admiradores do livro, é considerada, apesar da brilhante interpretação de Finney, uma das obras menores de John Huston, autor dos aclamados «O Tesouro da Sierra Madre» ou «A Noite da Iguana». Por autorizar a adaptação, Margerie Bonner, viúva de Malcolm Lowry, recebeu 350 mil dólares. «Mezcal», do mexicano Ignacio Ortiz, não constitui uma adaptação da obra de Lowry, mas dela recebe a inspiração para criar uma história sobre um grupo de pessoas perseguidas pela culpa, pelo desamor e pelo desejo de vingança, que se encontram casualmente um dia no bar El Farolito, em Parián, para com a ajuda de mescal aliviar a dor que transportam. Nos Ariel Awards do México, «Mezcal» foi galardoado com 6 prémios, incluindo o de melhor filme, tendo sido também bastante condecorado em festivais internacionais.
A obra-prima de Malcolm Lowry motivou igualmente a realização de vários documentários. Em 1976, o National Film Board of Canada, país onde Malcolm Lowry viveu alguns anos, produziu «Volcano: An Inquiry Into the Life and Death of Malcolm Lowry». Realizado por Donald Brittain e John Kramer, tem a participação de Richard Burton e ganharia seis prémios naquele país (incluindo o de melhor documentário) e vários no estrangeiro. Em 1988, Óscar Menéndez realizou «Malcolm Lowry en México», documentário que recupera os passos do escritor naquele país. Trabalho intenso, resgata uma Cuernavaca paradisíaca e infernal e reinventa o ambiente que inspirou «Debaixo do Vulcão». Este documentário foi galardoado com o Prémio de Melhor Fotografia e Investigação Literária da Primeira Bienal de Vídeo.
Em 1981, a canadiana Listen for Pleasure edita em duas cassetes «Debaixo do Vulcão», com narração do actor inglês Christopher Cazenove. A partir de Abril de 2009, é editada uma nova versão em MP3, com duas horas e cinquenta e quatro minutos. Em Março de 1988, a DH Audio edita em 3 audiocassetes uma versão narrada por Nick Ullett, actor inglês naturalizado norte-americano que integrara, entre outros, o elenco de «Um vagabundo na alta-roda». Com a duração de três horas e 45 minutos, a Phoenix Audio editaria em 1997 a mesma gravação em versão “audiobook”. Já em 2009, A Blackstone associa-se também às comemorações do centenário do escritor editando uma versão de John Lee, que antes dera voz a obras de Jack London e de Kazuo Ishiguro.
A música também prestou homenagem ao livro de Malcolm Lowry. Depois de abandonar os Cream (que fundara em 1966 com Eric Clapton), Jack Bruce inicia em 1971 uma carreira a solo com o álbum «Harmony Row». Uma das faixas, “The Consul at sunset”, é inspirada na personagem de Geoffrey Firmin. O multi-instrumentista francês Bernard Lubat (companhia por diversas vezes de Jean-Luc Ponty ou Stan Getz), edita em 1974 «Au Bon Livre (ode to Malcolm Lowry)». Na Primavera de 1998, em Berlim, um grupo seduzia os clubes nocturnos. Utilizando instrumentos pouco convencionais, a banda Malcolm Lowry apostava numa sonoridade melancólica, servida por uma voz profunda que falava de descaracterização da vida urbana, da efemeridade das relações da solidão e do amor não correspondido. Em Agosto do ano seguinte gravaria um único disco antes de se dissolver. O conhecido interesse de Malcolm Lowry pela música e, em particular, pelo jazz levou um grupo de músicos dirigidos por Graham Collier a associarem-se e a editarem um disco de homenagem. Surgiu, assim, em 1978 o duplo LP «The Day of the Dead». Por detrás das composições musicais, palavras de diversas obras do autor inglês dão corpo a um disco original, levando Raúl Ortiz y Ortiz, aclamado tradutor de «Debaixo do Vulcão» para espanhol, a dizer que “não só capta e expressa fielmente uma interpretação pessoal dos conflitos existenciais da obra, como evoca também o paradoxo entre a alegria e a tristeza do Dia dos Mortos no meu país”. Em 2001 foi comercializada uma versão em CD.
Em 1947, Fletcher Markle, actor e realizador (e adaptador não reconhecido de «A Dama de Xangai», de Orson Welles), apresentou na CBS Radio uma adaptação radiofónica de «Debaixo do Vulcão» e Graham Collier (que dirigira «The Day of the Dead») faria o mesmo para uma versão de teatro radiofónico («Hi-Fi Theatre»). Durante noventa minutos, a BBC transmitiu a peça no programa «Monday Play», no dia 12 de Março de 1979. Mais recentemente, a companhia de Laurent Gutmann, director francês de teatro (e encenador de peças de escritores como Genet, Duras, Gorki ou Brecht) levou à cena uma nova adaptação – “Je Suis Tombé”.
Também o campo da pintura tem recebido inspiração. No México, particularmente, tem entusiasmado artistas a transpor para a tela a frustrada relação do cônsul com Yvonne Firmin. Alberto Gironella, pintor e poeta de origem catalã que dedicou parte da obra a interpretar liricamente a simbologia do álcool, do amor e da loucura do romance, é o autor do mural “El Viacrucis del Cónsul”, que a última edição mexicana de «Debaixo do Vulcão» tem na capa. Recentemente, foi inaugurada a Sala Alberto Gironella no Jardim Borda, em Cuernavaca, que receberá trabalhos do pintor inspirados naquela obra. Na mesma cidade, em 2006, artistas de vários países estiveram presentes na “Quauhnauhuac – The Straight Line is a Utopia”, frase retirada do livro que deu nome à exposição. O imaginário do livro inspirou também o artista Daniel Lezama a pintar “La Muerte de Empédocles”. Realizado para o restaurante Glória, antiga “pulqueria” na Cidade do México, o quadro reconstitui um ambiente de taberna, do qual sobressaem Mayahuel (deusa asteca do agave, a partir do qual são produzidos o mescal e o “tequila”) e um homem sentado no chão – Phil Kelly, reconhecido pintor irlandês que trocou a pátria pelo México e que, como Lowry, partilhava o gosto pelas bebidas mexicanas, mas também Empédocles/Geoffrey Firmin, o malogrado cônsul. Ao fundo, um vulcão, o Etna, onde o filósofo grego se suicidou, mas também, naturalmente, o Popocatépetl, de «Debaixo do Vulcão».
A viver no México há mais de quarenta anos, o holandês Bob Schalkwijk prolonga a tradição dos fotógrafos que sentiram o apelo da paisagem física e humana daquele país. O seu trabalho «El volcán de Quauhnahuac», que recria o ambiente em que decorre «Debaixo do Vulcão», juntou-se aos realizados sobre os índios tarahumaras ou lacandones, que lhe trouxeram renome internacional.
Não podia faltar, entre os imensos admiradores da obra, quem considerasse que a trágica história de Geoffrey e Yvonne tenha motivado demasiada “inspiração” a outros escritores. O colombiano Ivan Garcia Palacios sustenta que o livro de Lowry serviu de inspiração aos «Cem Anos de Solidão», de Gabriel García Márquez. No seu blogue dedicado ao assunto, expõe os argumentos, comparando excertos das duas obras, analisando cuidadosamente entrevistas do compatriota, ligando discursos e depoimentos de Carlos Fuentes, comparando datas e a coincidência de alguns acontecimentos. A prova de que uma admiração desmedida se sobrepõe a uma análise lúcida ou a verdade finalmente descoberta e revelada? Analise (e decida) o leitor por si próprio em http://geneticaliteraria.blogspot.com.
«Debaixo do Vulcão» continua, 62 anos após a sua publicação, a reunir fiéis, a incentivar estudos, a fascinar novos leitores. Quando o livro foi editado em Espanha, Jorge Semprun afirmou ser necessário obrigar os que não conhecem o romance a lê-lo e relê-lo e Cabrera Infante defendeu que, por muitos leitores que tenha, nunca terá bastantes. O centenário de Malcolm Lowry constitui um pretexto renovado para ler, ou reler, a trágica história de Geoffrey Firmin e de Yvonne. Também por essa razão, no próximo dia 28 de Julho, Malcolm Lowry, mais do que outro escritor, merece um brinde. “Salud, Malcolm!”
Marcelo Teixeira, Lisboa, 2009
AL REDEDOR DE BAJO EL VOLCÁN
El próximo 28, Malcolm Lowry cumpliría cien años. En vida publicó solamente dos obras, pero eso no impide que este autor inglés sea hoy considerado uno de los mayores escritores del siglo XX y que Bajo el volcán, su obra mayor, figure entre las más variadas listas de lecturas obligatorias, como es el caso de la revista Time, el periódico Le Monde y la Modern Library. Ahora bien, ¿qué tiene de diferente Bajo el volcán? ¿La complejidad y la descripción prodigiosa de las sensaciones y de los estados del alma? ¿La amplitud y la erudición de las referencias? ¿La capacidad metafórica? ¿La denegación sistemática de la publicación por parte de los editores? ¿La categorización de la desesperación? ¿La fuerza de su simbolismo? ¿Los excesos y los delirios del Cónsul? ¿El misticismo de su arquitectura narrativa? Todo eso y mucho, mucho más, presentado en una historia aparentemente simple: cierta mañana Yvonne regresa a Quauhnáhuac para tratar de reconciliarse con Geoffrey Firmin, exCónsul inglés en aquella ciudad mexicana, en un proceso de autodestrucción acelerada. Doce horas después, ambos dejaron de pertenecer al mundo de los vivos. La literatura gana una bella historia de amor, intensa, trágica y compleja. Inmortal. La obra adquirió una veneración poco común, cediendo nombre a festivales de música, cantinas y tabernas, blogs y páginas de Internet, workshops de escritura creativa o cooperativas de apicultores, constituyendo un grupo de admiradores cuya devoción se expresa de múltiples formas.
En Portugal, Bajo el volcán fue publicada en 1965 (dieciocho años después de su edición en Estados Unidos e Inglaterra), y no suscitó interés sino en un círculo restringido de lectores que lo comentaban en tertulias. Manuel Gusmão es su admirador confeso, también Baptista-Bastos, que recibió la novela de manos de Carlos de Oliveira, autor que le brinda un homenaje con el poema “Debaixo do Vulcão”, incluido en el libro Micropaisagem, en 1968. También otros poetas le dedican atención: Herberto Helder traduce algunos poemas de Lowry al portugués, Al Berto dedica a Lowry cinco “cartas inúteis” en el Diário de Notícias del 13 de enero de 1985 y lo evocará, años más tarde, en O Anjo Mudo. Una década después, José Agostinho Baptista, poeta y traductor y admirador de Malcolm Lowry, publica Debaixo do Azul sobre o Vulcão, texto intenso que cubre sentimentalmente toda la geografía de México, sobre la cual va pasando la sombra y los ambientes de los personajes de Bajo el volcán. En el 2000, Manuel de Freitas le rinde homenaje con la publicación de Todos contentes e eu também (nombre de una cantina de Tomalín que aparece al final del capítulo IX de libro de Lowry), eso, además del epígrafe, contiene los poemas “El Fartolito”, la cantina más famosa del libro, y “Gusano Rojo”, una de las innumerables bebidas que Geoffrey Firmin bebe a lo largo del libro. El tributo continuaría al año siguiente con “Gloomy Sunday” y “Whiskey on a Sunday”, de su nuevo libro: Os Paraísos Artificiais. En México, país donde Bajo el volcán es particularmente apreciado, recibió la aclamación de Octavio Paz, Carlos Fuentes y José Emilio Pacheco, que ganó, en 1991, el Premio de Ensayo Malcolm Lowry, y no se resistió a traducir algunos poemas del autor inglés. En México, Roberto Bolaño escribió Los detectives salvajes, que lleva un epígrafe de Lowry. “A frase nunca dita”, cuento de Alicia Giménez Bartlett incluido en el colectivo O teu nome flutuando num adeus, publicado en Portugal el año pasado, cuenta la historia de un personaje que sigue los pasos de Lowry en Cuernavaca buscando El Farolito, que, al contrario de lo que pasa en la novela, nunca existió allí, pero sí en Oaxaca. Jean-Paul Sartre también admiraba la obra, como su compatriota Olivier Rolin, que pasó hace pocas semanas por Portugal en su regreso a Francia para participar en el coloquio evocativo del centenario de Malcolm Lowry. Su hermano Jean Rolin publicó recientemente Un Chien Mort Après Lui, título tomado de la última frase de Bajo el volcán. Una comprensión completa de esta obra es imposible sin la lectura de A Companion to Under the Volcano. Para escribirlo, el autor, el neo-zelandés Chris Ackerley, vivió algunos meses en Cuernavaca a fin de reconstruir los pasos de Malcolm Lowry.
La adaptación del libro al séptimo arte constituyó siempre una tentación y daba por sí mismo para una película. Muchos realizadores lo habían intentado, con la ayuda de reconocidos escritores. Guillermo Cabrera Infante escribió un guión para el realizador Joseph Losey, que fue rechazado por tener como pseudónimo G. Caín, muy parecido a Michael Caine, quien era considerado por Losey un actor menor. No tuvieron mejor suerte los guiones de Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes y Luis Buñuel (quien consideraba imposible filmar lo que está en el alma de una persona) o de los realizadores Jules Dassin y Ken Russell. Tras bambalinas, actores como Jack Nicholson, Richard Burton o Robert Shaw, no escondían su deseo de representar el papel de Geoffrey Firmin. Por fin, John Huston, que estudiara innumerables guiones, supo que Guy Gallo, un joven estudiante de Yale que nunca había trabajado en el cine, había logrado hacer en siete días lo que nadie consiguió en 30 años. Apasionado por México, John Huston conocería a Lowry en Cuernavaca y ocuparía, durante las filmaciones, la casa que el escritor alquilara, hoy transformada en “Hotel Bajo el Volcán” en la calle Humboldt, la célebre Nicaragua del libro. Con Albert Finney y Jacqueline Bisset en los papeles principales, Bajo el volcán fue filmado en México y llegó a las salas de cine en 1984. Película desdeñada por los admiradores del libro, es considerada, a pesar de la excelente actuación de Finney, una de las obras menores de John Huston, autor de las reconocidas cintas: El tesoro de la sierra madre y La noche de la iguana. Por autorizar la adaptación, Margerie Bonner, la viuda de Malcolm Lowry, recibió 350 mil dólares. Mezcal, del mexicano Ignacio Ortiz, no es una adaptación de la obra de Lowry, pero recibe de ella la inspiración de hacer una historia sobre un grupo de personas que perseguidas por la culpa, por el desamor y el deseo de venganza, se encuentran casualmente un día en el bar El Farolito, en Parián, para aliviar su dolor con la ayuda del mezcal. En los Premios Ariel de México, Mezcal, recibió seis premios, incluido “mejor filme”, y también fue condecorado en varios festivales internacionales.
La obra maestra de Malcolm Lowry también motivó la realización de varios documentales. En 1976, la National Film Board of Canada, país donde Malcolm Lowry vivió algunos años, produjo Volcano: An Inquiry Into the Life and Death of Malcolm Lowry. Realizado por Donald Brittain y John Kramer, con la participación de Richard Burton, ganaría seis premios en aquel país (incluido el de “mejor documental”) y varios en el extranjero. En 1988, Óscar Menéndez realizó Malcolm Lowry en México, documental que recupera los pasos del escritor en aquel país. Trabajo intenso, rescata una Cuernavaca paradisíaca e infernal, y reinventa el ambiente que inspiró Bajo el volcán. Este documental fue galardonado con el premio a la mejor fotografía e investigación literaria en la Primera Bienal de Video.
En 1981, la canadiense Listen for Pleasure, editó Bajo el volcán en dos casetes, con la voz del actor inglés Christopher Cazenove. A partir de abril de 2009, fue editada una nueva versión en MP3, con dos horas cincuenta y cuatro minutos de duración. En marzo de 1988, DH Audio edita en tres casetes una versión narrada por Nick Ullett, actor inglés naturalizado norteamericano que integró, entre otros, el elenco de “Um vagabundo na alta-roda”. Con duración de tres horas cuarenta y cinco minutos, Phoenix Audio editaría en 1997 la misma grabación en versión audiobook. En 2009, Blackstone se asocia a las conmemoraciones del centenario del escritor, editando una versión de John Lee, que antes dio voz a las obras de Jack London y de Kasuo Ishiguro.
La música también brindó homenaje al libro de Malcolm Lowry. Después de abandonar Cream (que fundó en 1966 con Eric Clapton), Jack Bruce inició en 1971 una carrera de solista con el álbum Harmony Row. Una de sus piezas, “The Consul at sunset”, está inspirada en el personaje de Geoffrey Firmin. El multiinstrumentista francés Bernard Lubat (varias veces compañero de Jean-Luc Ponty en Stan Getz), editó en 1974 Au Bon Livre (ode to Malcolm Lowry). En la primavera de 1998, en Berlín, un grupo sedujo los clubs nocturnos. Utilizando instrumentos poco convencionales, la banda Malcolm Lowry apostaba a una sonoridad melancólica, usando una voz profunda que hablaba de la despersonalización de la vida urbana, de lo efímero de las relaciones, de la soledad y del amor no correspondido. En agosto del año siguiente grabaría un único disco antes de desintegrarse. El sabido interés de Malcolm Lowry por la música y, en particular, por el jazz llevó a un grupo de músicos dirigidos por Graham Collier a asociarse y a editar un disco de homenaje. Surgió así, en 1978, el LP doble The Day of the Dead. Por atrás de las composiciones musicales, palabras de diversas obras del autor ingles dan cuerpo a un disco original, llevando a Raúl Ortiz y Ortiz, aclamado traductor de Bajo el volcán al español, a decir que “no sólo capta y expresa fielmente una interpretación personal de los conflictos existenciales de la obra, evoca también la paradoja entre la alegría y la tristeza del Día de Muertos en mi país”. En 2001 fue comercializada una versión en CD.
En 1947, Fletcher Markle, actor y realizador (y adaptador no reconocido de A Dama de Xangai, de Orson Welles), presentó en CBS Radio una adaptación radiofónica de Bajo el volcán y Graham Collier (que dirigía «The Day of the Dead») habría lo mismo para una versión de teatro radiofónico («Hi-Fi Theatre»). Durante noventa minutos, la BBC transmitió la pieza en el programa «Monday Play», el día 12 de marzo de 1979. Más recientemente, la compañía de Laurent Gutmann, director francés de teatro (y escenificador de piezas de escritores como Genet, Duras, Gorki o Brecht) llevó a escena una nueva adaptación: “Je Suis Tombé”.
El campo de la pintura también ha recibido su inspiración. En México, particularmente, hay artistas entusiasmados por transportar a la tela la frustrada relación del Cónsul con Yvonne Firmin. Alberto Gironella, pintor y poeta de origen catalán, dedicó parte de su obra a interpretar líricamente la simbología del alcohol, del amor y de la locura del romance, es el autor del mural “El Viacrucis del Cónsul”, que la última edición mexicana de Bajo el volcán tiene en la portada. Recientemente fue inaugurada la sala Alberto Gironella en el Jardín Borda, en Cuernavaca, que recibirá trabajos del pintor inspirados en aquella obra. En esa misma ciudad, en 2006, artistas de varios países estuvieron presentes en “Quauhnáuhuac – The Straight Line is a Utopia”, frase tomada del libro que dio nombre a la exposición. El imaginario del libro inspiró también a Daniel Lezama a pintar “La Muerte de Empédocles”. Realizado para el restaurante Gloria, antigua “pulquería” de la Ciudad de México, el cuadro recrea un ambiente de cantina donde sobresalen Mayahuel (diosa azteca del agave, a partir del cual se producen el mezcal y el tequila) y un hombre sentado en el suelo, Phil Kelly, reconocido pintor irlandés que cambió su patria por México y que, como Lowry, participaba del gusto por las bebidas mexicanas, y también Empédocles/Geoffrey Firmin, el Cónsul maltratado. En el fondo, un volcán, el Etna, donde el filósofo griego se suicidó, pero también, naturalmente, el Popocatepetl de Bajo el volcán.
Al vivir en México por más de cuarenta años, el holandés Bob Schalkwijk, continúa con la tradición de los fotógrafos que sentirán el peso del paisaje físico y humano de aquel país. Su trabajo, «El volcán de Quauhnáhuac», recrea el ambiente en que transcurre Bajo el volcán, uniendo sus trabajos sobre los indios tarahumaras y los lacandones, que le dieron renombre internacional.
No podría faltar, entre los extraordinarios admiradores de la obra, quien considerase que la trágica historia de Geoffrey e Yvonne ha inspirado “exageradamente” a algunos escritores. El colombiano Iván García Palacios sostiene que el libro de Lowry sirvió de inspiración a Cien años de soledad de Gabriel García Márquez. En su blog dedicado al tema, expone los argumentos, comparando párrafos de las dos obras, analizando cuidadosamente las entrevistas de su compatriota, ligando discursos y declaraciones de Carlos Fuentes y comparando datos y coincidencias de algunos acontecimientos. ¿Prueba eso que una admiración desmedida se sobrepone al análisis lúcido o es finalmente una verdad descubierta y revelada? Estudie (y decida) el lector por sí mismo en: http://geneticaliteraria.blogspot.com.
Bajo el volcán continúa, 62 años después de su publicación, juntando fieles, incentivando estudios, fascinando a nuevos lectores. Cuando el libro fue editado en España, Jorge Semprun afirmó que era necesario obligar a quienes no conocen el romance, a leerlo y releerlo y Cabrera Infante dijo que por muchos lectores que tenga, nunca tendrá bastantes. El centenario de Malcolm Lowry constituye un pretexto renovado para leer o releer la trágica historia de Geoffrey Firmin y de Yvonne. También por esa razón el próximo día 28 de julio, Malcolm Lowry, más que ningún otro escritor, merece un brindis. “¡Salud, Malcolm!”
Marcelo Teixeira, Lisboa, 2009
Traducción de Félix García