FUNDAÇÃO MALCOLM LOWRY

FUNDAÇÃO MALCOLM LOWRY

Este blogue foi criado com o intuito de unir a comunidade lowryana de todo o mundo, a fim de trocar ideias e informação sobre o autor, promover a organização de conferências, colóquios e outras actividades relacionadas com a promoção da sua obra. Este é o primeiro sítio trilingue feito no México sobre o tema. Cuernavaca, México.


Malcolm Lowry Foundation


This blog was created to comunicate all lowry scholars, fans and enthusiastics from around the world in order to promote the interchange of materials and information about the writer as well as organize events such as lectures, colloquiums and other activities related to the work of the author. Cuernavaca, Mexico.


FONDATION MALCOLM LOWRY

Ce blog a été crée dans le but de rapprocher la communauté lowryenne du monde entier afin de pouvoir échanger des idées et des informations sur l'auteur ainsi que promouvoir et organiser des conférences, colloques et autres activités en relation avec son oeuvre. Cuernavaca, Morelos, Mexique.


lunes, 3 de julio de 2017

Pedro Páramo y Bajo el volcán

PEDRO PÁRAMO E DEBAIXO DO VULCÃO – UM JOGO DE ESPELHOS

Não constitui novidade que o México, ao longo dos séculos, tem sido terreno fértil para o aparecimento de grandes escritores. Nezahualcóyotl, Sor Juana Inés de la Cruz ou, mais contemporaneamente, Octavio Paz, Jorge Ibargüengoitia e David Toscana são inegáveis exemplos deste prodígio e autores de obras que não só se constituíram como marcos da assombrosa capacidade de imaginar mundos ficcionais como contribuíram para a riqueza literária que permite à civilização humana continuar a sonhar. Juan Rulfo integra também, por direito próprio, este restrito grupo, autor de uma obra cujo reconhecimento saiu do seu espaço natural e se converteu em património literário universal.
Este escritor sayulense tem ainda a extraordinária particularidade de a sua obra ser anormalmente escassa. Inevitavelmente, para um confesso admirador de Malcolm Lowry (como é o autor destas linhas), esta singularidade não deixa de constituir, mais do que uma curiosidade, um bom pretexto (e uma tentação) para revisitar, ainda que de forma muito breve, os dois autores e aquelas que são consideradas as suas principais criações – Pedro Páramo e Debaixo do Vulcão.
Rulfo publicou em vida apenas dois livros (Llano en Llamas e Pedro Páramo), sendo o seu outro livro (El Gallo de Oro) editado muitos anos após a sua morte. Semelhante percurso tem Malcolm Lowry: Ultramarina é publicado em 1935, Debaixo do Vulcão em 1947. Todas as outras obras do escritor de New Brighton são póstumas. Em ambos os casos, é o segundo livro que consagra universalmente aos seus autores (e esta aclamação é da responsabilidade não só dos leitores, mas também, e isto é importante, dos seus pares das letras), não constituindo, pois, surpresa que Pedro Páramo e Debaixo do Vulcão integrassem com justiça, e naturalmente, diversas listas das principais obras literárias do século XX.
Um romance desta natureza contém um potencial de transposição para a Sétima Arte que nenhum realizador desconsidera. Por essa razão, e depois de várias tentativas fracassadas de outros realizadores, em 1984 o norte-americano John Huston passou para o cinema a vertigem autodestrutiva de Geoffrey Firmin. Antes, o exilado galego Carlos Velo filmara a saga de Juan Preciado.
Curiosa também é a maneira como os autores classificam os espaços geográficos destas obras. Para Lowry, sabemos desde sempre, Debaixo do Vulcão (Quauhnahuác, em concreto) representaria o Inferno na trilogia «The Voyage that Never Ends». Para o escritor mexicano, Comala constitui o «Refúgio de pecadores», que Juan Preciado vê inscrito na virgem que Eduviges Dyada leva pendurada no peito. Creio serem evidentes as semelhanças simbólicas entre ambos os lugares.
Sendo uma obra em que a mexicaneidade está presente desde a primeira página (os silêncios e os murmúrios, os espaços, a Revolução e as guerras cristeras, a dialéctica real/irreal, a invulgar representação simbólica…), Pedro Páramo é uma obra universal, ninguém considerando actualmente as (aparentes) limitações de que se revestiam algumas das críticas dirigidas ao autor quando a obra foi publicada, em 1955. Além de uma riqueza simbólica incomum, esta obra de Rulfo ostenta uma (complexa) estrutura narrativa, de natureza fragmentária, em que passado e presente se intercalam, fornecendo desse modo as peças que permitirão, por exemplo, construir psicologicamente as personagens, dificultando a sua leitura (mas sem lhe retirar o prazer) e exigindo do leitor um continuado esforço para a sua compreensão. Não são também todos elementos que nos maravilham em Debaixo do Vulcão?
Terminamos com uma última e peculiar analogia. Parece-me inquestionável que uma das principais linhas que atravessam estes duas extraordinárias obras constitui uma reivindicação. Em Pedro Páramo, por exigência da mãe à cabeceira da morte, o protagonista parte em busca do pai, mas a viagem a Comala é também pretexto para reclamar o que considera seu. Tal como Yvonne, que regressa a Quauhnáhuac não só para proporcionar ao marido uma derradeira hipótese de amar, mas também para lhe exigir algo a que ela considera ter direito – ser feliz.
Num e noutro caso, Preciado e Yvonne procuram alguém que já não existe, encontrando no seu lugar nada mais do que fantasmas, fantasmas e mais fantasmas. Desencantados, não lhes resta outra alternativa que não concluir que a ilusão tem um preço, neste caso demasiado alto, que ambos haveriam de pagar da forma mais extrema e cruel: com a própria vida.
Marcelo Teixeira
Lisboa, 25 de Junho de 2017










PEDRO PÁRAMO Y BAJO EL VOLCÁN – UN JUEGO DE ESPEJOS

No constituye una novedad que México, a lo largo de los siglos, haya sido terreno fértil para la aparición de grandes escritores. Netzahualcoyotl, Sor Juana Inés de la Cruz, o más contemporáneamente, Octavio Paz, Jorge Ibargüengoitia y David Toscana son ejemplos innegables de este prodigio de autores de obras que no sólo se constituyen como marcos de la asombrosa capacidad de imaginar mundos ficticios sino que contribuyen a la riqueza literaria lo que permite a la civilización humana continuar soñando. Juan Rulfo integra también, por derecho propio, este selecto grupo, autor de una obra cuyo reconocimiento pasó de pertenecer a su espacio natural a convertirse en patrimonio literario universal.
Este escritor sayulense tiene además una extraordinaria particularidad, de que su obra es anormalmente escasa. Inevitablemente, para un admirador confeso de Malcolm Lowry (como es el autor de estas líneas), esta singularidad no deja de constituir, más que de una curiosidad, un buen pretexto (o una tentación) para revisar, aunque de una forma muy breve, a los dos autores y aquellas que son consideradas sus principales creaciones Pedro Páramo y Bajo el Volcán.
Rulfo publicó en vida únicamente dos libros (El Llano en Llamas y Pedro Páramo), siendo otro libro suyo (El Gallo de Oro) editado muchos años después de su muerte. Semejante trayectoria tuvo  Malcolm Lowry: Ultramarina y publicado en 1935, Bajo el Volcán en 1947. Todas las otras obras del escritor de Nueva Bringhton son póstumas. En ambos casos, es el segundo libro el que consagra universalmente a sus autores (y esta aclamación no sólo es de los lectores, pero también, y esto es importante, de sus pares de las letras), no constituye, pues, sorpresa que Pedro Páramo y Bajo el Volcán integren con justicia, y naturalidad, diversas listas de las principales obras literarias del Siglo XX.
Un relato de esta naturaleza contiene un potencial de trasposición para el Séptimo Arte que ningún realizador ignora. Por esa razón, y después de varias tentativas fracasadas de otros realizadores, en 1984 el norteamericano John Huston pasó al cine la vertiginosa autodestrucción de Geoffrey Firmin. Antes, el gallego Carlos Velo filmó la hazaña de Juan Preciado.
También es curiosa la manera en la que los autores clasifican a los espacios geográficos de estas obras. Para Lowry, sabemos desde siempre que Bajo el Volcán (Quauhnáhuac, en concreto) representa el infierno en la trilogía “El viaje que nunca termina”. Para el escritor mexicano, Comala constituye el “Refugio de los pecadores” que Juan Preciado ve escrito en el pendiente que la virgen Eduviges Dyada lleva en el pecho. Creo que son evidentes las semejanzas simbólicas entre ambos lugares.
Es una obra en la que la mexicanidad está presente desde la primera página (los silencios o murmullos, los espacios, la Revolución y las guerras cristeras, la dialéctica real/irreal, una representación simbólica poco común…), Pedro Páramo es una obra universal,  nadie puede considerar actualmente las (aparentes) limitaciones de las que se valían algunas críticas dirigidas al autor cuando la obra fue publicada en 1955. Más allá de una riqueza simbólica poco común, esta obra de Rulfo ostenta una (compleja) estructura narrativa, de naturaleza fragmentaria, en la que el pasado y el presente se intercambian,  abasteciendo de este modo  las piezas que permiten, por ejemplo, construir psicológicamente los personajes, dificultando su lectura (pero sin retirarle el encanto) y exigiendo al lector un continuo esfuerzo para su comprensión. ¿No son también todos los elementos que nos maravillan de Bajo el Volcán?
Terminamos con una última analogía peculiar. Me parece incuestionable que una de las principales líneas que atraviesan estas dos extraordinarias obras constituye una reivindicación.  En Pedrero Páramo, por exigencia de la madre en su lecho de muerte, el protagonista parte en busca del padre, pero el viaje a Comala es también un pretexto para reclamar lo que considera suyo. Tal como Yvonne, que regresa a Quauhnáhuac no sólo es para proporcionarle al marido una última propuesta de amor, pero también es para exigirle algo a lo que ella considera tener derecho –ser feliz.
En uno y otro caso, Preciado e Yvonne buscan a alguien que ya no existe, encontrando en su lugar nada más que fantasmas, fantasmas y más fantasmas. Desilusionados, no les queda otra alternativa que concluir que la ilusión tiene un precio, en este caso demasiado alto, que ambos tendrían que pagar de la forma más extrema y cruel: con la propia vida.

Marcelo Teixeira
Lisboa, 25 de junio de 2017
(Traducción de Mercedes Pedrero)

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